Joaquin Phoenix dança a glória da miséria
Acabei de assistir Coringa. Eu poderia me ater a tantos aspectos riquíssimos do longa como o enredo, a fotografia, o roteiro, a criticidade da narrativa, o jeito único de abordar a personagem… Mas não consigo – e não quero! – parar de respirar o talento do Joaquin Phoenix.
Somente uma capacidade de entrega tão intensa e completa é capaz de transmitir a ironia da rotina de um protagonista como o Coringa idealizado por Todd Phillips. Beleza seria a minha palavra-chave para o filme.
Brilhantemente, Phoenix se faz dono da ofegante e dolorosa risada de um marginal diagnosticado com distúrbios psicológicos. Na dramatização, o duelo entre a resistência social e a liberdade interior são constantes e foi esse o aspecto que me tomou: como ele conseguiu transmitir essa ambiguidade intensa do início ao fim!
Para retratar a glória de quem vive à margem social, a lógica subversiva vem à tona e podemos assistir, graças ao poder da estética visual, um ator em seu verdadeiro lugar. Por um lado, o aspecto esquelético, sujo, pobre, insano… A expressão de quem não se afortunou com privilégios e vive à margem do visível.
Por outro, um desejo incansável de seguir, ainda que camufladamente sob a pele mascarada de um comediante que tenta extrair risos da sua tragédia diária. A ficção permite tornar as mortes literais e fazer a revolução triunfar sob o sorriso colorido de vingança. A miséria vai à glória.
Pela potência artística da atuação, o processo do próprio Joker é o grande diferencial do discurso fílmico. Numa sessão às 21h de um domingo, metade das cadeiras de uma das salas de cinema que exibiam a obra estavam ocupadas. Posso facilmente inferir que, além de mim, muita gente se surpreendeu.
Joaquin animou um inédito e inesquecível Joker. Vale conferir!
